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segunda-feira, 3 de maio de 2010

E-Fólio B

A saúde do adolescente: O que se sabe e quais são os novos desafios, de Margarida Gaspar de Matos (Psicóloga)

Actualmente denotamos uma rápida ascensão á adolescência por parte dos jovens, obrigando-os assim a redefinir e a reavaliar todo o seu interior estipulando um projecto de vida. O desenvolvimento do adolescente irá ser influenciado por vários factores (família, escola, os grupos de pares e/ou “cliques”, o social, etc.) que por sua vez irão participar na construção da sua identidade pessoal e social, sendo que acontecerá uma maior interacção interpessoal, podendo influir nas questões de saúde (riscos e protecção). Importa referir que as crianças e o seu comportamento social com os pares são influenciados pelo comportamento dos pais, sendo que o que é observado no dia-a-dia por estas crianças irá reflectir-se na escola e na aceitação dos seus colegas.
É no seio familiar que as crianças podem aprender a lidar com situações diárias e com outras pessoas, tornando-se assim muito importante recolher e compreender estas interacções que as crianças incutem e aplicam nas suas representações do mundo. A educação, questões financeiras, e a família são contextos que influem no ambiente parental e seguidamente no ambiente escolar das crianças, por exemplo, famílias com baixos salários estão mais susceptíveis a ambientes de ruptura interna e a tudo que daí advém, originando também um estilo parental mais castigador e menos interveniente. Contrariando este estilo, e obtendo um estilo mais democrático (mais interveniente, responsável), irá proporcionar nos jovens maior autonomia e tornando-os mais competentes socialmente. É necessário assim saber tomar um rumo, visto que quando os pais são modelos desequilibrados (ameaçam ou não intervêm) reflectir-se-á na falta de capacidade da criança em gerar por ela regras de solução de problemas optando por tomar decisões “oportunistas”.

Na infância a criança relaciona-se com os pares através de jogos sociais (desenvolvendo interacções, empatia, etc.), e assim que sai do ambiente familiar irá continuar a desenvolver esta relação com os pares, sendo que crianças mais populares têm melhor aceitação e logo maior oportunidade de aprendizagem e nas menos populares irá acontecer o inverso forçando-as a cair no isolamento e experienciando assim desajustamentos sociais. Estas relações de amizade são importantes para aprender a viver em sociedade e ajudando a incutir e desenvolver a cooperação e empatia, podendo assim observar que no inverso irá originar problemas interpessoais na idade adulta.
A relação dos filhos com os amigos é influenciada indirectamente pelos pais, ou seja, quando os pais promovem a iniciativa de tomada de decisões e autonomia sobre os seus filhos, estão assim a fornecer ferramentas e orientações para relações futuras, certo é que estas relações com os pares poderão ter factores positivos e negativos. Pela positiva, porque os pais vêm com bons olhos a existência de uma boa relação com os pares, considerando-os como um complemento ao ambiente familiar concluindo assim que os filhos ficam menos agressivos, e adicionando uma boa relação na escola, fornecem assim uma protecção aos factores de risco para a saúde dos adolescentes. Os pares auxiliam nas dúvidas relacionadas com as emoções e a sexualidade, modas, actividades diárias, estão também ligados a uma ideia de felicidade pessoal e maior auto-estima, sendo que a falta de amigos poderá causar o isolamento e ansiedade social, formação de opiniões e espaços de diálogo e apoio sobre os problemas pessoais e/ou escolares e estimula também a gestão de conflitos. Negativamente, havendo uma falta de controlo ou havendo um excesso do mesmo por parte dos pais, irá causar no adolescente a adopção de comportamentos que põem a saúde deles em risco, chegando assim á conclusão que é necessária uma participação gradual por parte dos pais, ou seja, passando por uma dependência parental até á autonomia de um adulto. Verifica-se nas relações com mais companheirismo uma maior influência nos comportamentos dos adolescentes sendo que o amigo poderá influir em actividades de risco. Os tempos livres do adolescente são pertencentes a um estilo de vida e desenvolvimento saudável e passando-os com os seus amigos também é sinónimo de bem estar psicológico.
O adolescente procura grupos com características como as suas, onde se identifique, caso contrário será rejeitado pelo grupo. Existem grupos com determinadas características que são apelidados de um certo nome por reflectirem essa mesma característica, como por exemplo os “druggies” que estão associados ao consumo de droga. Este tipo de grupos, “crowds”, constituem-se pelo menos de 10 pessoas e que não têm necessariamente de se conhecer bem, apenas reflectem o estilo de grupo e não a sua maneira de pensar. Ao invés deste grande grupo, existem uns mais pequenos, “cliques”, que têm maior importância e participam nas mesmas actividades, com as relações internas a serem pausadas pela sua duração e abertura ao exterior e novos membros. A par da televisão, a música (cada vez mais acessível graças ás novas tecnologias) também é uma das actividades mais importantes para os adolescentes, que ora por se identificarem com as letras e/ou artistas, faz com que seja um factor de inclusão para determinado grupo associado a um certo tipo de música, por exemplo, os “metaleiros” estão ligados a problemas de afastamento familiar e escolar.
Tem-se verificado uma alteração nas relações sociais entre adolescentes devido á crescente expansão das novas tecnologias e comunicação. Aqui também poderemos observar um lado positivo, ou seja, procura de informação, espaço de socialização e reflexão, capaz de fomentar o desenvolvimento pessoal, incluindo os jogos de computador que podem aumentar a atenção, concentração, iniciativa, desafios pessoais, etc., e de um lado negativo, onde ocorrem actos de isolamento social afastando-se emocionalmente do mundo dos adultos, ignorando os problemas reais e pouca intimidade física. Ainda de um aspecto negativo, existe o risco de mal intencionados se aproveitarem de adolescentes forjando as suas próprias identidades criando situações de violência física e psicológica.
Resta assim aos pais e educadores tentar perceber onde podem encaixar neste mundo de novas tecnologias, auxiliando os filhos fornecendo ferramentas reais, úteis, contribuindo assim para um correcto desenvolvimento interno e preparando-o para a realidade que caminha em paralelo com o virtual.

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